segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

I´M NOT THERE VS NO DIRECTION HOME







Esses dois filmes retratam a vida de Bob Dylan, ambos procuram mostrar todas as encarnações que este artista já viveu. De cantor folk à rockeiro, de judeu à católico, de messias à judas, Bob imprimiu sua marca indelével na cultura americana. Os diretores são dois mestres da linguagem cinematográfica. Martin Scorcese, diretor de " No Direction Home ", através de imagens de arquivo reconstrói a odisséia de Dylan até a consagração, é interessante observar como o artista não se permitia aprisionar em uma única persona. E é a partir dessa idéia que Todd Haynes desenvolve "I´m not There", radicalizando o conceito e dividindo entre quatro atores (Richard Gere, Heath Ledger, Christian Bale e Cate Blanchet) a responsabilidade de vivenciar as diferentes fases do compositor. Uma experiência interessante é ver as duas obras, uma na sequência da outra e perceber como se complementam.

Livro - Rock And Roll - Uma História Social


Um curso completo sobre rock´n´roll é a isso que se propõe este livro de Paul Friedlander. O trabalho é resultado das aulas ministradas por Paul na Universidade do Oregon. Recomendado para aquelas pessoas que buscam uma visão sistemática sobre o assunto. Bem abrangente em sua abordagem, traça um painel geral, com os principais artistas e movimentos.
Editora : Record
Idioma:Português
Número de Páginas: 490

domingo, 15 de fevereiro de 2009

the zombies - odessey & oracle 1968





Este é um dos meus álbuns preferidos de todos as épocas. A capa reflete as caraterísticas básicas da psicodelia, imagens que remetem a fábulas e contos de fada. O som é pop barroco e camerístico em grande parte envolto por letras metafóricas e enigmáticas. O grande destaque vão para os teclados, pianos e cravos, tocados por Rod Argent e para a voz transcedental de Colin Blustone. Alguns podem até dizer que são canções-de-ninar para adultos, mas canções-de-ninar altamente lisérgicas. Reminiscências de Shakespeare, Faulkner e Irmãos Green, entre outros. Todas as canções são excelentes, mas podemos destacar o ultra-romantismo de "Rose for Emily" , o tom melancólico "This Will Be Our Year" , o rock proto-gótico "Butchers Tale" e o encerramento espetacular com "Imagine The Swan". Uma curiosidade é que esse disco foi o beijo da morte para Os Zombies, que se dissolverão pouco tempo após o lançamento, em razão da pouca repercussão do trabalho . O álbum só foi fazer sucesso graças a Al Kooper(ex- Blood, Sweat & Tears), que convenceu a CBS a lançar "Time of Season", um single que vendeu 2 milhões de cópias, quando a banda já nem existia mais. A canção é tão boa que foi plagiada pelos Mutantes que a transformaram em "Ando Meio Desligado".

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes


O título deste álbum é a melhor definição de seu contéudo, Arte com "A" maíusculo, maíusculo como o talento desses dois gigantes do samba. Mas samba é muito pouco para definir a sonoridade
deste trabalho. A capa dá uma pista, trata-se um disco de música "Negra", Wilson com seu olhar sereno e tranquilo, quase um santo e Nei combativo, cavaquinho nas mãos, um guerreiro, cada um , a seu modo, representando seu papel na preservação e propagação de suas raízes e tradições. O trabalho é uma carta de intenções, um manifesto pela valorização da genuína cultura afro-brasileira , o quê fica patente com o pout purri de abertura que se encerra com a emblemática "Coisa da Antiga". Outros destaques do disco são a fantástica "Coité, Cuia", as maravilhosas "Gotas de Veneno/Senhora Liberdade", a suingadíssima"Candogueiro" e "Gostoso Veneno", esta última uma obra-prima do nosso cancioneiro romântico. Talvez não agrade muito a Nei Lopes, mas no plano ideológico este álbum guarda uma íncrível semelhança com "Winter In America" da dupla estados-unidense Gil-Scott-Heron e Brian Jackson, que assim como Nei e Wilson formam equação cabeça-coração. Em poucas palavras negritude engajada

Nelson Angelo e Joyce 1972


Perdoê-me o clichê, mas como explicar o inexplicável. Esse álbum é uma prova de que existe magia. A capa transmite bem o clima da viagem sonora que está por vir, Joyce contemplativa, resplandecente em toda a sua beleza e Nelson estradeiro e misterioso. Ela parece observá-lo do céu como uma deusa olímpica e ele herói semi-deus com os olhos na estrada, o coração na jornada e a mente em sua musa. Ouvir este disco é como ser transportado para uma dimensão paralela, onde reina a paz e a tranquilidade. É uma experiência espiritual, próxima de uma iluminação. A dupla deixa transparecer todo o seu encantamento, num casamento químico de psicodelia, folk, bossa-nova, rock-rural e clube da esquina. Apesar de aparentemente não se tratar de obra conceitual no sentido estrito, nos parece que tudo têm um encadeamento emocional que progride num crescente cheio de significados. A canção que abre o disco "Um Gosto De Fruta" é um primor de lisergia pop. Outros destaques são "Sete Cachorros", "Comunhão" , "The Man From the Avenue" e "Tiro Cruzado". Esta é uma obra obrigatória na coleção de quem vê na música mais do que um simples entretenimento, mas um meio de se entrar em contato com outros planos e despertar outras percepções.

EMÍLIO SANTIAGO 75


Emilio Santiago, argh! Se você pensa assim,após uma audição a esse álbum de 1975, você vai rever todo os seus conceitos à respeito desse artista. A primeira coisa que chama a atenção é a capa bem transada, estilo anos 70, com o nome do artista, em vários estilos de letra, preenchendo o fundo da foto e ao centro sentado elegantemente num banco o próprio Emílio, trajando um conjunto jeans e lançando um olhar entre o provocante e o provocador, algo ao estilo Al Green. Mas isso é apenas a embalagem, o quê se esconde por trás da imagem é música negra brasileira da melhor qualidade, um clássico instantâneo. O trabalho reúne a elite dos músicos brasileiros daquela década, dentre outros, Azimuth, Copinha, Dori Caymmi, Durval Ferreira, Edson Maciel, Hélio Delmiro, Ivan Lins, João Donato, Laércio de Freitas, Vitor Assis Brasil, Wilson das Neves e Zé Bodega, e transita entre o funk e o samba. A primeira canção é "Bananeira", de autoria de João Donato, com a partipação especialíssima do próprio, em sua versão definitiva, uma paulada funk que parece integrar a trilha sonora de um blaxpotation imaginário. O disco têm tantos ponto altos que ficaria difícil em poucas linhas fazer jus a todos eles, mas é preciso destacar ainda "Brother" infinitamente superior ao original de Jorge Ben, o que por si só já é uma coisa inimaginável, "La Mulata", uma composição dos sensacionais irmãos Valle, aqui transformada em uma salsa a la Santana, "Nega Dina" de Zé Ketti é um sambalanço de responsa, onde se destaca o traquejo e a versatilidade do interpréte, agora o fechamento é "Sessão das Dez", um blues com toques de jazz, simplesmente íncrivel. Como bônus ainda temos encartado no CD as considerações muito pertinentes de Ronaldo Boscoli.